Qual carro vai para a pista primeiro?

domingo, 26 de setembro de 2010

Agora chega. Novos rumos ou fim da brincadeira.

Voltamos para casa bastante desanimados depois da última prova em Tarumã. A coisa estava feia e depois de quatro tentativas frustradas, o saldo mais positivo era uma única puxada, nos treinos e jamais oficializada, na casa de 9 segundos baixos.

Outros pilotos já estavam levando os carros da AD para o nível dos 8 segundos baixos e até mesmo 7 segundos altos e nós lá quebrando um cabeçote atrás do outro e remando para conseguir um único 9 baixo nos treinos e levando para a pista o carro com todo o tipo de problemas.

Tudo isso gerava tensão na oficina, o trabalho no carro atrapalhava o nosso expediente normal, meu sócio no carro o Wortmann, não estava satisfeito e nesse ponto já não tinha mais disposição de investir no carro.

O tempo foi passando, perdemos mais uma etapa e não havia solução para o carro. Foi então que a AD começou a organizar uma etapa de seu campeonato na cidade de Santa Cruz do Sul, à convite dos então organizadores do campeonato local Arrancada Cup. A distância era grande e sabíamos que a AD não poderia contar com o número de participantes habitual e que somente os mais "de fé" realmente iriam colocar seus carros nas carretas e subir para Santa Cruz. Percebi que o Kadett não poderia deixar de ajudar essa iniciativa e decidi que eu iria fazer o que tivesse de ser feito para resolver de uma vez os problemas do carro e estar com ele pronto para competir nessa etapa.

Tenho pouquíssimas, se não nenhuma foto dessa época pois foram dias corridos de insanidade e o tempo era curto até mesmo para bater fotos. Mas o que realmente marcou, foi que decidi montar um motor 16v no carro. Na verdade, queria montar uma mecânica 16v em cima do meu bloco original do carro, que já tinha miolo forjado, mas decidi fazer a coisa para realmente andar forte dessa vez. Era tudo ou nada.

Gastei dinheiro que não tinha e comprei um motor completo, pois com o pouco tempo que dispunha até a prova, não teria chance de correr atrás e descobrir como deveria ser a montagem, logo optei por um motor completo, que comprei por ter seu bloco danificado e inutilizado. Mas o motor ainda estava montado e assim ele seria meu mapa e referência para a montagem das peças no meu próprio bloco.

Mas para um motor assim não serviria um turbo apl. Eu precisava no mínimo de um turbo .50 com eixo grande. E as bielas também não serviriam mais. Eu não queria mais correr o risco de chegar numa pista, a 150 km de distância e quebrar o motor por causa de peças que poderiam não aguentar o castigo que eu planejava impingir ao motor.

Então, sem tempo para esperar ou procurar os melhores negócios, comprei um conjunto de bielas e um turbo garret .50, ambos usados de um mesmo vendedor. E os gastos foram tomando proporção.

Quando todas as peças estavam disponíveis começamos a montar com calma, pois apesar de o cronograma estar apertado como sempre, mas ia dar. Quinta-feira tentei ligar o motor pela primeira vez e senti que estava meio trancado. Funcionava, não batia, mas parecia pesado e o mais impressionante é que quando era desligado ele praticamente travava no mesmo instante. Era lógico que tinha algo de errado e a perspectiva era decepcionante: Desmontar o motor até aparecer o problema.

De início desconfiei das bielas, elas pareciam muito apertadas. Mas quando desmontei as capas, vi que as bronzinas estavam intactas. Segui desmontando tudo até que nao sobrasse nada no motor, só o arranque, o virabrequim com os mancais soltos e a bomba de óleo...

Bomba de óleo?

Pois sim, a maldita bomba de óleo "envenenada" para dar mais pressão foi envenenada demais e travou. Quando travou, o virabrequim seguiu girando e fez com que a engrenagem rachasse e se expandisse até travar na carcaça da bomba. Isso danificou a ponta do virabrequim e inutilizou completamente todas as partes da bomba de óleo nova.

Resumo da coisa: Quinta-feira à noite meu irmão e eu então rcomeçamos a montagem, ao mesmo tempo que chegavam alguns amigos e não sabiam o que pensar daquela situação: O motor do carro totalmente desmontado, o carro não tinha coletor de escape, muito menos pressurização e todas as tubulações necessárias.

Mas não nos abatemos e começamos a trabalhar. Não tivemos muitos amigos ajudando dessa vez, apenas os mais chegados mesmo. E o trabalho foi duro, pouco descanso, poucas horas de sono. Mas o resultado foi, que sexta-feira à noite o motor estava montado, mas ainda faltavam todos os acabamentos e diversas tubulações. Fomos ao sacrifício e ficamos mais uma noite sem dormir. Fabricamos precariamente todas as peças necessárias em plena madrugada e acabamos a montagem. Exaustos.

6:00 da manhã de sábado, dia da corrida. Enquanto nascia o dia, nos organizávamos para levar o Kadett, o Civic 07 e o Eclipse GSX, três dos principais carros da expedição a Santa Cruz do Sul, para o ponto de encontro onde já nos aguardava a carreta fretada pela AD, já carregada com os carros dos outros pilotos.

A carreta estava num posto nos limites da cidade e nós estávamos com 3 carros de competição, sem escapes, totalmente modificados em uma região próxima ao centro... E a única opção era ir rodando. E foi isso que fizemos. Mal rodamos quatro ou cinco quarteirões e cruzamos, não com uma, mas com duas viaturas da Brigada Militar, estacionadas em frente a um estabelecimento comercial.

Imaginem vocês o semblante do brigadeano, ao escutar, às 6 horas da manhã, o ronco de 3 carros de competição dobrando a esquina, rodando calmamente um atrás do outro... Fiquei olhando a situação embasbacado e rezando para que nao entrassem correndo no carro, pois tudo o que eu não queria era fugir da polícia... Afinal era pra isso que tínhamos criado a Associação Desafio...  O guarda não gostou nada daquilo e ameaçou entrar na viatura, mas foi então que percebi os outros guardas olhando tudo e rindo da situação. Por via das dúvidas fomos embora dali rapidinho e sem olhar para trás.

Durante o caminho fui arredondando o mapa da injeção a toda vez que parávamos, pois era a primeira vez que aquele motor estava sendo ligado e a injeção estava com o mapa base gerado pelo "padrão racepro", da FuelTech. Aos poucos o mapa ia ficando mais certinho e em dois toques o Kadett estava em cima da carreta, pronto para a viagem.

Pela primeira vez em muito tempo parecia que tudo iria dar certo.