Qual carro vai para a pista primeiro?

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Finalmente o "dia D"...



Sentado no saguão do hotel com os outros competidores, percebi que nenhum estava tão desanimado quanto eu. Era cedo da manhã de domingo e aguardávamos todos se juntarem, para irmos ao autódromo colocar tudo em ordem para os treinos do segundo dia de competições da prova.

O Velopark ainda nem existia e lá estávamos, prontos para andar pra valer numa pista de 402 metros, então novidade para nós. A puxada de sábado já tinha dado um gostinho, mas sabíamos que apesar da condição do carro, podíamos melhorar muito. Exceto por um detalhe:

CHOVIA QUE DEUS MANDAVA!

Eu nem queria pensar na possibilidade de que havíamos passado por um capítulo do "Kadett no País das Maravilhas", com todas as atribulações e figuras que conhecemos no sábado, e que tudo aquilo seria em vão. E a chuva não deu trégua durante todo o café da manhã. Até que resolvemos ignorar isso e ir pro autódromo de qualquer maneira.



E por incrível que pareça, a chuva foi parando, o autódromo foi secando e o Kadett estava pronto para andar. Desde que eu conseguisse enfiar a pressurização e o mangote no lugar...Mais calmo, agora usando a cabeça ao invés dos pés, a coisa finalmente deu certo.

 

Mas é claro que não seria tão fácil. Ninguém aí imaginou que, depois daquela função toda da solda, não ficaria nenhum furinho na peça... O motor era alimentado por 4 bicos que teoricamente eram de 70 lb/h, mas eles não alimentavam o carro, por isso havia um bico injetor na pressurização, para garantir que não desse falta. Só que o suporte do bico estava aparafusado antes da famigerada solda.

Ajustei então a  Fuel Tech para pulsar o injetor na marcha lenta, junto com os bicos principais. O que ocorreu então foi um incrível chafariz que revelou não um ou dous furinhos, mas sim que a peça era uma verdadeira peneira!


Resolvemos testar isso, porque ficamos com receio de que o combustivel pudesse ser pulverizado no cofre através desses furos quando o turbo pressurizasse, mas a coisa era muito mais grave do que parecia, pois o combustível estava jorrando pelos furos já em marcha lenta.

Alguma coisa tinha de ser feita, correr assim estava fora de cogitação. Mas como vedar um tubo numa situação assim, vedando ao mesmo tempo pressão e combustível? É claro que não existem soluções mágicas, mas deixar de correr por causa disso também estava igualmente fora de cogitação. Até que alguém apareceu com um rolo bem grande de fita isolante. E não tivemos dúvida: Enrolamos o rolo todo em volta da solda e rezamos pra dar certo. E aparentemente estava vedando.


Mas aí tivemos outros problemas... De uma hora para outra, o carro começou a falhar. Parecia até uma praga, arrumava uma coisa e estragava outra! Trocamos velas... Bomba não podia ser, afinal era extremamente improvável que todas as 4 bombas estivessem estragadas... Nada resolvia e decidimos trocar os cabos de vela. Mas não tínhamos sobressalentes.

 


Foi então que o Anderson Dick nos emprestou os cabos de vela originais do seu carro de rua, um Vectra Elegance. Apesar de o carro ter motor 8v, os cabos serviram perfeitamente no motor 16v do Kadett, mas também não era esse o problema. Depois descobrimos que eram os injetores entupidos... Sujeira no combustível ou nos tanques... Ou nos galões... Quem vai saber agora...



Mas ainda tinham todos aqueles vazamentos... E o pessoal da Mecânica Romeu, que havíamos acabado de conhecer, entrou em cena auxiliando a reparar o vazamento de água. Assim não passamos mais vergonha na hora do alinhamento. E finalmente fomos outra vez para a pista.



Kadett no alinhamento, com o Civic VTi turbo. Arranquei sem nitro e com todo o cuidado para não trepidar muito Apesar do tempo ruim nos 60 pés, mais uma vez conseguimos andar na frente, agora com o tempo um pouco mais baixo: 8,5@201 e 13,1@402. O carro fumava cada vez mais, mas assim mesmo os tempos estavam baixando. Os urubus cada vez mais se apavoravam com a evolução do carro e corriam para o nosso box para ver o que se passava por lá.


Mal sabiam eles que o carro estava andando com apenas 0,7 bar de pressão de turbo e sem nitro...

Já estavamos quase nos 12, já era um tempo melhor, mas ainda não era o que pretendíamos. Comecei então a analisar os tempos e percebi que o tempo de 402m não estava condizendo com o tempo de 201m. Pelas parciais, parecia que o carro estava mais lento no final da pista, mas não era o que eu sentia ao volante.

Depois de quebrar um pouco a cabeça com esse enigma, fui até o final da reta e observei outros carros arrancando e acabei me dando conta de que eu estava tirando o pé no final, antes de cruzar os 402... Que amadorismo... Mas por outro lado, havia boa perspectiva de melhorar ainda mais, apenas acelerando até o final da pista.



Fui para minha segunda puxada oficial. Era a primeira puxada com nitro e finalmente parecia que eu começaria a ter uma idéia do real potencial do carro. Foi então que eu comecei a escutar no motor um barulho estranho, algo batendo. De capacete não se ouve muito bem, mas tive a nítida impressão de escutar as bielas batendo um pouco. Pensei:  Dane-se. Não vim até aqui para desistir agora, se quebrar, quebrou.



Ainda no alinhamento, uma revoada de urubus se abateu sobre o meu carro, parecia que eles sentiam que a evolução nos tempos não ia parar. Era a penúltima puxada e eles queriam que eu alinhasse com o carro do tal piloto da Turbo A, que não estava lá, mas o carro sim estava sendo pilotado pelo próprio preparador. Acenei que não, ainda estava acertando o carro. Mandei eles longe. Eu nem tinha testado com nitro ainda, além do que, quando nos prometemos, eu fui bem claro: O pega era com ele e não com procurador.

Mas o que eu queria mesmo era dar uma puxada, sentir o carro com nitro e chamar o cara pra acelerar de qualquer maneira. Só que o carro deles chegou acertado e estava andando redondo desde a primeira puxada. E eu nem estava sabendo ainda onde a pista realmente acabava... Eles que esperassem ao menos o carro estar acertado. E eu estava confiante de que a última puxada fecharia o dia com chave de ouro.

Mas tínhamos que lidar com uma puxada de cada vez. Fui para o alinhamento e fiz uns burnouts no final da fila, para purgar a linha de nitro. Ensaiei uma arrancada mais forte com o nitro e lá se foi a pressurização pra cima novamente... E agora, o que faria? Levei quase meia hora pra colocar aquilo no lugar, com toda a calma e paciência... Não tive dúvidas, desci do carro de capacete e tudo, fiquei de pé em cima do motor e comecei a pular como um louco em cima daquele cano maldito, tentando fazê-lo encaixar de volta no mangote que o cara lá da cidade tinha me dado. Mas aquela borracha era mais dura que concreto. Chutei aquilo com tanta força, que incrivelmente acabou entrando!

Aparafusei a abraçadeira da melhor maneira que pude, e logo chegou correndo meu irmão, lá do box, para me ajudar a concluir a fixação e prender novamente o capô. Me consolei com o fato de que a arrancada teria que ser devagar mesmo.

Alinhei com uma Saveiro turbinada. Fiz um burnout bem tímido e mil coisas passaram pela minha cabeça. Desde os cuidados que eu teria de tomar pra conseguir arrancar com o carro com o nitro, passando por todos os problemas que o carro estava enfrentando ali naquela pista, até mesmo o risco de incêndio, e acabando naquelas bielas... Bielas usadas que paguei mais caro que novas pela pressa de montar e que agora eu estava escutando bater... Será que eu já estava pirando?

Quando o alinhador baixou o braço e o Jaime Kopp deu o start no pinheirinho todas as vozes silenciaram. A única coisa que eu sentia era uma enorme concentração em fazer tudo certo. Tudo estava calmo e parecia até que o tempo estava mais devagar. Os joelhos pararam de tremer e quando eu vi o último amarelo eu acelerei lentamente o carro, deixando a embreagem escorregar um pouco, para evitar que a pressurização fosse lançada como um morteiro novamente.

Girando pouco, logo passei a segunda, para não correr o risco de entrar nos cortes de giro. Mal percorri 20 metros de primeira marcha. nem 3 segundos depois coloquei a segunda e o carro um pouco fora de giro, mas aceitou e teve uma boa aceleração nessa marcha, que também durou pouco. Agora era a hora da verdade, espetei a três com todo o cuidado para não errar marcha, engrenei o câmbio, soltei a embreagem e apertei o botão do nitro. A terceira parecia uma primeira.

A aceleração me colou no banco e o carro foi pra frente com vontade. Procurei a Saveiro no espelho e vi só um vulto amarelo, muito atrás. Olhei para o câmbio e vi a fumaça que estava por todo carro, no nível do local onde originalmente fica o rádio, como se o interior do carro fosse uma banheira, na qual eu estava imerso, só que não em água, mas em fumaça branca que entrava pelos furos da parede de fogo.

Pensei por um décimo de segundo: "Será que está incendiando o carro?"

Logo após espetei a quarta marcha e dá-lhe botão. Com nitro era outro carro, berrava como um louco e empurrava como eu sempre quis que fôsse, desde que começamos. Segui acelerando até o final, pois não queria mais correr o risco de tirar o pé antes de cruzar a linha. Eu não iria perder aquela puxada por nada. Não tiraria o pé daquele acelerador antes de cruzar os 402m nem mesmo se o carro estivesse pegando fogo, literalmente.

Isso me levou perigosamente para perto do final da reta e quando fui freiar, senti que a traseira estava muito mais leve, mas os freios estavam originais. Eu estava a mais de 200 km/h quando pisei no freio e traseira quis passar a frente e o carro foi passarinhando até o final, onde esperavam os outros pilotos que já haviam corrido. Entrei na curva como um carro de turismo, só que com pneus 225 com 8 libras na frente e pneus 185 com 40 libras atrás... Quem estava lá parado disse que foi feio de ver!



Veja a puxada do Kadett a 1m10s desse video

Parei o carro, a fumaça se dissipou, não havia incêndio nenhum. O motor batia mais que uma Tobata e a temperatura estava na casa do chapéu. Mas estava funcionando, sem falhar e com marcha lenta estável. Pensei duas vezes, mas desliguei.

Logo todos os pilotos foram liberados para voltar aos boxes, em fila indiana. Sabia que tinha sido o melhor tempo, mas nao tinha nem idéia de quanto. Mas sabia que só aquela puxada já tinha valido todo o esforço que tínhamos tido para chegar até ali. Quando entrei na área de box, a primeira coisa que vi foram os urubus com cara de bunda e uma câmera na mão, denunciando que estavam ali prontos para registrar a explosão do meu motor, mas o carro ligou fácil e me trouxe de volta ao box do mesmo jeito que saí: Rodando.


Nem tive tempo de processar mais esse pensamento e comecei a ver as caras conhecidas, todas com largo sorriso, alguns pulando e festejando.O primeiro que me abordou foi o Anderson Dick, que me deu os parabéns pelo tempo, mas eu nem sabia qual tinha sido o tempo... Ele perguntou a pressão e eu que nem tinha olhado isso ainda, puxei o registro da FuelTech e disse: "1,05".

-"Bah, um e meio só?" Não meu, UM E ZERO CINCO, 1 kg... Pode olhar aqui no display...

Toda a galera chegou feliz para dar os parabéns.

No final, conseguimos uma puxada com apenas 1,05 kg de pressão e apenas um estágio de nitro e as parciais foram: 2,4 de 60 pés, 8,1 de 201 metros e 12,2 de 402m beliscando os 200 km/h.

Ainda tinhamos oportunidade de dar mais uma puxada, que seria a última. E eu já comecei a maquinar uma forma de aumentar o nitro, acertar um pouco melhor a geometria, prender melhor a pressurização, nitrar já de segunda marcha... Até que liguei o carro e meus planos caíram por terra. O barulho das bielas batendo estava muito alto e certamente eu já tinha perdido aquele virabrequim... Se eu continuasse forçando estaria me arriscando a perder também as bielas, que eram muito mais caras e o bloco, que era o bloco com o número original do carro...

Pesei as coisas e concluí que se fosse uma questão de honra, ainda dava pra ir, mas o cara com quem marquei o pega nem estava ali, iria acelerar com o mecânico... Os urubus já nem tomaram coragem pra vir me chamar pro pega novamente e pensei: Mês que vem tem outra, o cara vai estar aí... Já sofremos bastante, não vou fazer palhaçada pro diabo rir. E assim encerramos o dia.

O saldo da coisa foi que o turbo foi pro saco, perdi um virabrequim, as bielas estavam com os alojamentos errados, levamps uma surra do carro, a caixa estava claramente moendo, dava pra sentir, gastamos uma grana preta para estar lá, mas valeu muito à pena.

Sabíamos que não era o tempo certo do carro, mas 12 baixo com 2,4 de 60 pés significava que a casa dos 11 era uma meta mais que realista e cá entre nós: 1 kg de pressão? Tinha muito cavalo ali ainda por vir. Sem falar no nitro... Como parâmetro de comparação, num grid com mais de 20 carros da Turbo A e B, só dois tiveram tempos melhores que nós e a diferença foi pequena, apesar de todos os nossos percalços.




No final deu até para arranjar um tempinho para comer!!!



Pessoal ajudando a carregar o Kadett

Pose para a foto!




 E os carros indo embora na carreta fretada pelo pessoal da Desafio.

6 comentários:

  1. Que puxada monstra foi essa, com 1kg de pressão só... Quero ver esse carro montado, com tubulação a altura, sem vazamento, com no minimo 2kg de pressão no turbo e socado de nitro, hahahahahahhaha

    acompanhando sempree!
    abraços

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  2. muito forte seu karro parabenes...e coisas melhores estão por vir

    att jack loko choko

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  3. ufaa.. essa ja deu para tirar um pouco da ansiedade da galera em ver esse carro um foguete.
    foi muito show, com a potência parcial ja calou a torcida contra.

    boa sorte para equipe

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  4. Mtu fera cara..
    e poe essa nave dnovo na pista..

    abracao..

    flickr.com/photos/john-keppler

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