Então agora estava tudo decidido: Seria um carro de corridas!
Tudo? Ainda restavam muitas dúvidas. Correr em qual categoria? Como seria a preparação? E principalmente: Com que grana? A coisa já não tava fácil antes e depois de toda essa novela mexicana só ficou ainda pior.
Mas estava decidido, o caminho era esse. Como fazer seria resolvido no decorrer do processo.
A primeira dúvida era em relação a categoria onde iríamos participar. Mas o carro seria turbo, isso era certo.
De cara descartamos a "Turbo B", pois na época era uma categoria praticamente clone da "Turbo A", com apenas algumas modificações que deveriam servir como restrições - uma bomba de combustível e quatro bicos injetores no máximo - sendo que na "A" tudo era livre. O que ocorria de fato na época, era que o pessoal que corria na "B" utilizava uma bomba de alta vazão importada e 4 injetores de alta vazão também importados. Isso deixava os carros em condições de igualdade em termos técnicos, porém com um custo mais alto, o que se refletia nos resultados de pista, onde frequentemente víamos os "b" andando na frente dos "a", ou muitas vezes inscritos nas duas categorias. E para mim isso não fazia sentido nenhum.Então na época restavam a "Turbo A" e "FLTD". Na primeira deveriam ser carros de rua totalmente montados, com preparação de motor quase livre e preparação de chassi limitada. Usava-se pneus comuns. Já na FLTD - Força Livre Tração Dianteira - Podia-se usar preparação de motor ainda um pouco mais liberada, com preparação de chassi também mais elaborada. Os pneus eram os drag slicks e os carros eram bem mais rápidos.
Minha idéia inicial era montar o carro enquadrado na "Turbo A", para correr um período de um ou dois anos desenvolvendo, principalmente a parte de motor, para depois mudar essa mecânica para um carro de força livre e competir onde eu realmente queria. E enquanto isso, já que era uma categoria de carros de rua - o nome correto dela era "STTD-A", ou seja: Street Turbo Tração Dianteira A" - ainda poderia usar o Kadett como quebra-galho para andar na rua, já que naquele momento era meu único carro.
Mas aí começaram a surgir detalhes que não me agradaram. Ao me aprofundar um pouco no regulamento e conhecer um pouco mais da realidade dos carros conforme eu passava a frequentar mais corridas, percebi que embora o regulamento fosse para carros de rua, mantendo diversas características externas e internas do carro original, em outras partes inviabilizava totalmente essa função.
A suspensão era alterada, modificando a distribuição de peso do carro e certas peças eram substituídas por rolamentos, as molas traseiras eram muitas vezes virtualmente fixas e o movimento da suspensão era "travado", como se fala nesse meio. Em resumo: A suspensão de um "turbo A" competitivo na pista era totalmente inviável para o uso na rua. Os carros utilizavam todos o metanol como combustível, o que absolutamente também não é viável para as ruas. Utilizava-se um recurso chamado "icecooler", que é um radiador ar-agua que funciona com gelo, o que no uso diário é inviável, pois o gelo simplesmente derrete. Comandos de válvula, injetores, embreagens, caixas de cambio e muitas outras peças só serviam para uso em pista de competição
E com o tempo fui descobrindo que todos os competidores mais fortes utilizavam veículos "de baixa", ou seja, sem sequer a possibilidade de serem licenciados para uso nas vias públicas. De fato, eram carros de competição que imitavam carros de rua em alguns aspectos (que os deixavam mais lentos e inseguros do que poderiam ser) e não carros de rua também utilizados em competições. A idéia de um carro exclusivamente de corridas com altíssima potência e ao mesmo tempo equipado com carpetes, bancos, forrações, vidros, peças obrigatoriamente de lata e pneus de rua não me seduziu e nem me pareceu muito racional. E conforme fui aprendendo tudo isso, comecei a refletir se valeria mesmo a pena...
Então, quando me vi cogitando a hipótese de comprar peças do interior do meu carro que haviam sido roubadas apenas para poder enquadrá-lo em uma categoria onde corriam somente carros de corrida, tive a certeza de que a "Turbo A" não era para mim.
Afinal, se eu andava com meu carro na rua sem essas peças, por quê haveria de gastar meu ralo recurso financeiro disponível para preparação do carro em peças originais de acabamento interno que só fariam o meu carro ficar mais lento por aumentar seu peso?
De qualquer modo, eu tinha a humildade para compreender que não se entra na arrancada sem saber nada diretamente na categoria de força livre.
Paralelamente a isso, eu estava ajudando o T.O. Castro com seu Civic 07 a competir nas provas de arrancada em uma outra categoria, a "Desafio". Essa participação nas provas com o Civic iria acabar mudando toda a minha mentalidade em relação às categorias e em relação a própria arrancada, abrindo um novo e incrível leque de opções.
E isso iria mudar muito mais do que apenas os projetos pessoais para o meu carro...