Qual carro vai para a pista primeiro?

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Iniciando a preparação. Mas o que fazer exatamente?



Então agora estava tudo decidido: Seria um carro de corridas!

Tudo? Ainda restavam muitas dúvidas. Correr em qual categoria? Como seria a preparação? E principalmente: Com que grana? A coisa já não tava fácil antes e depois de toda essa novela mexicana só ficou ainda pior.
Mas estava decidido, o caminho era esse. Como fazer seria resolvido no decorrer do processo.

A primeira dúvida era em relação a categoria onde iríamos participar. Mas o carro seria turbo, isso era certo.
De cara descartamos a "Turbo B", pois na época era uma categoria praticamente clone da "Turbo A", com apenas algumas modificações que deveriam servir como restrições - uma bomba  de combustível e quatro bicos injetores no máximo - sendo que na "A" tudo era livre. O que ocorria de fato na época, era que o pessoal que corria na "B" utilizava uma bomba de alta vazão importada e 4 injetores de alta vazão também importados. Isso deixava os carros em condições de igualdade em termos técnicos, porém com um custo mais alto, o que se refletia nos resultados de pista, onde frequentemente víamos os "b" andando na frente dos "a", ou muitas vezes inscritos nas duas categorias. E para mim isso não fazia sentido nenhum.

Então na época restavam a "Turbo A" e "FLTD". Na primeira deveriam ser carros de rua totalmente montados, com preparação de motor quase livre e preparação de chassi limitada. Usava-se pneus comuns. Já na FLTD - Força Livre Tração Dianteira - Podia-se usar preparação de motor ainda um pouco mais liberada, com preparação de chassi também mais elaborada. Os pneus eram os drag slicks e os carros eram bem mais rápidos.

Minha idéia inicial era montar o carro enquadrado na "Turbo A", para correr um período de um ou dois anos desenvolvendo, principalmente a parte de motor, para depois mudar essa mecânica para um carro de força livre e competir onde eu realmente queria. E enquanto isso, já que era uma categoria de carros de rua - o nome correto dela era "STTD-A", ou seja: Street Turbo Tração Dianteira A" - ainda poderia usar o Kadett como quebra-galho para andar na rua, já que naquele momento era meu único carro.

Mas aí começaram a surgir detalhes que não me agradaram. Ao me aprofundar um pouco no regulamento e conhecer um pouco mais da realidade dos carros conforme eu passava a frequentar mais corridas, percebi que embora o regulamento fosse para carros de rua, mantendo diversas características externas e internas do carro original, em outras partes inviabilizava totalmente essa função.

A suspensão era alterada, modificando a distribuição de peso do carro e certas peças eram substituídas por rolamentos, as molas traseiras eram muitas vezes virtualmente fixas e o movimento da suspensão era "travado", como se fala nesse meio. Em resumo: A suspensão de um "turbo A" competitivo na pista era totalmente inviável para o uso na rua. Os carros utilizavam todos o metanol como combustível, o que absolutamente também não é viável para as ruas. Utilizava-se um recurso chamado "icecooler", que é um radiador ar-agua que funciona com gelo, o que no uso diário é inviável, pois o gelo simplesmente derrete. Comandos de válvula, injetores, embreagens, caixas de cambio e muitas outras peças só serviam para uso em pista de competição

E com o tempo fui descobrindo que todos os competidores mais fortes utilizavam veículos "de baixa", ou seja, sem sequer a possibilidade de serem licenciados para uso nas vias públicas. De fato, eram carros de competição que imitavam carros de rua em alguns aspectos (que os deixavam mais lentos e inseguros do que poderiam ser) e não carros de rua também utilizados em competições. A idéia de um carro exclusivamente de corridas com altíssima potência e ao mesmo tempo equipado com carpetes, bancos, forrações, vidros, peças obrigatoriamente de lata e pneus de rua não me seduziu e nem me pareceu muito racional. E conforme fui aprendendo tudo isso, comecei a refletir se valeria mesmo a pena...

Então, quando me vi cogitando a hipótese de comprar peças do interior do meu carro que haviam sido roubadas apenas para poder enquadrá-lo em uma categoria onde corriam somente carros de corrida, tive a certeza de que a "Turbo A" não era para mim.

Afinal, se eu andava com meu carro na rua sem essas peças, por quê haveria de gastar meu ralo recurso financeiro disponível para preparação do carro em peças originais de acabamento interno que só fariam o meu carro ficar mais lento por aumentar seu peso?
De qualquer modo, eu tinha a humildade para compreender que não se entra na arrancada sem saber nada diretamente na categoria de força livre.

Paralelamente a isso, eu estava ajudando o T.O. Castro com seu Civic 07 a competir nas provas de arrancada em uma outra categoria, a "Desafio". Essa participação nas provas com o Civic iria acabar mudando toda a minha mentalidade em relação às categorias e em relação a própria arrancada, abrindo um novo e incrível leque de opções.

E isso iria mudar muito mais do que apenas os projetos pessoais para o meu carro...

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Um desagradável imprevisto...




Tudo corria bem. Carro funcionando, cabeçote novo, pintura bem polida, bancos Recaro, rodas 17 importadas... E o mais importante: Após um tempão, eu não estava mais a pé!

Até que um dia, numa dessas noites em que eu trabalhava até tarde, resolvi dar uma passada em casa, tomar um banho e comer alguma coisa, para espantar a fadiga e tocar o trabalho até mais tarde. Já meio tonto de fome e tanto tempo na oficina, quando cheguei não coloquei o carro na garagem, deu preguiça. Afinal, já iria sair mesmo.

Entrei em casa, tomei um banho, calcei minhas havaianas, coloquei uma bermuda e catei um pão com presunto e queijo... Enquanto roía o sanduba já perambulava pela sala, recolhendo minhas coisas para voltar ao trabalho. Quando de repente escuto um carro dando arranque... É curioso como a gente conhece direitinho o som do arranque do nosso carro. Cada carro tem um tipo de motor de arranque diferente, cada motor seja pela taxa de compressão, comando de válvulas ou mesmo pelo desgaste natural dos anéis e cilindros, apresenta uma compressão diferente e cada pinhão e cremalheira fazem seu próprio ruído característico. A soma de todos esses fatores resulta num som único, inconfundível.

Então, quando escutei o carro ligando na rua não tive dúvidas, nem por um milésimo de segundo, de que aquele era o meu carro sendo roubado. Saí correndo, abri a porta e pude ver um cara dentro do meu Kadett já tentando manobra-lo e tirá-lo da vaga onde estava estacionado. Dei um grito, sem raciocinar muito e alertei o cara, que ao me ver certificou-se de que o pino da porta do motorista estava bem fechado e por um instante me olhou com uma cara de quem diz: "Vai fazer o quê?"

Tudo aconteceu muito rápido, por isso não sei se foi assim mesmo ou só na minha imaginação, mas quer tenha sido real ou imaginário, o fato é que disparou uma reação imediata no meu cérebro e eu saí correndo em direção ao carro sem pensar no que faria para entrar. Quando eu percebi, já havia quebrado o vidro do carro com a mão e estava grudado no pescoço do ladrão, que no pavor ainda conseguiu arrancar o carro.

Para meu azar, ele já tinha conseguido manobrar e saiu me arrastando do lado de fora do carro, por cerca de sessenta metros. Quando percebi que a coisa ficaria cada vez mais feia, me dei conta de que cedo ou tarde teria que soltar o cara que gritava apavorado, ameaçando me prensar contra os carros estacionados. Por fim larguei o ladrão e desisti de segurar também meu carro. Só esqueci de que estava andando a mais de 50 km/h... Após ter largado o carro, comecei a rolar pelo asfalto, ciente do que acontecia. Só que aquele momento não acabava nunca... Rolei por mais uns 30 metros, sem sentir dor por causa da adrenalina. Só parei de rolar na esquina da rua, sob uma sinaleira fechada... Ainda bem que não fui mais adiante ou poderia ter sido atropelado pelos carros que passavam no cruzamento.

Saí então correndo de forma insana atrás do carro por mais uma quadra, esperando pela sorte de encontrar uma viatura da polícia, um táxi, alguém... Qualquer coisa! Finalmente me dei por vencido e resolvi voltar para casa e fazer um B.O. na delegacia, o mais rápido possível. Comecei a caminhar rápido pelo caminho de volta.

Foi então que me vi duas quadras distante da minha casa, completamente esfarrapado e ensanguentado. Não tinha mais as minhas havaianas nos pés e ao caminhar escutava um barulho como se estivesse pisando no chão molhado... Não era água, era sangue que vinha da planta dos meus pés.


Meus dedos estavam irreconhecíveis, literalmente em carne viva. Meu braço estava completamente rasgado e ensanguentado, cheio de cacos do vidro temperado da janela do motorista... Eu havia ficado apoiado sobre o vidro que eu mesmo tinha quebrado, que ficou preso na porta pela película... E tinha raspões pelo corpo todo, decorrentes da minha rolagem pelo asfalto em alta velocidade.

Quando cheguei em casa a vizinhança estava em polvorosa. Senhoras chorando, gente curiosa especulando e por sorte, uma vizinha médica estava nas imediações e me ajudou com os curativos. Após passado o rush do momento, ficou claro que eu não iria a lugar algum com meus próprios pés, muito menos fazer ocorrência policial. Liguei então para meu pai e ele foi fazer o boletim em meu lugar. Cerca de uma hora e meia após o ocorrido, o carro foi localizado num depósito da polícia da região metropolitana. Meu pai foi então acompanhado de um amigo buscar o Kadett. Era tarde e não foi autorizada a retirada mas pôde ser constatado que havia sido depenado. Então eles tiraram essas fotos que estão no blog e voltaram para casa. Ao menos o carro já tinha aparecido.

Os resultados práticos de toda essa confusão foram que eu fiquei 3 semanas sem poder caminhar ou trabalhar e o carro voltou para casa sem o interior, sem as rodas 17, sem os bancos recaro e... Bem, é claro que sem o sistema de som. Calculo por cima, que perdi em equipamentos o mesmo valor do carro.

Após um mês passado do roubo, finalmente pude caminhar até a oficina e olhar para o carro novamente. Encontrei-o numa condição ainda pior do que a que tinha estado nos últimos anos, abandonado na garagem.  Agora estava com o interior depenado, com rodas de ferro uma de cada tamanho e pior, com o vidro do motorista quebrado... E ainda tinha que engolir em seco o fato de que tinha de dar graças aos céus por ter conseguido recuperar alguma coisa desse incidente. Decidi naquele momento, sem pensar muito, que agora o carro seria preparado e que iria participar de competições de arrancada.

Mas para isso, eu iria precisar de ajuda financeira...

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Começando com pé esquerdo - Uma pequena introdução



Sempre tive vontade de participar de competições de carro, então resolvi criar este blog, para documentar a transformação e a evolução do meu Kadett Sl 1993 em um carro para participar nas competições amadoras de arrancada. A idéia é ir postando o material que eu tenho, contar as histórias, dividir o conhecimento e mostrar os resultados.

Mas tudo na vida tem um começo e nem sempre as coisas acontecem como a gente imaginava. Eu por exemplo até chegar no Kadett, só tinha tido carros VW. Um pouco irônico, já que justo a Volks é a marca mais utilizada em performance no Brasil. Não comprei esse carro por escolha própria, mas por oportunidade. Fui usando e com o tempo fui modificando o carro, colocando som, rodas, bancos recaro, volante Momo e fazendo alguns detalhes que fazem a diferença entre o nosso carro e um carro qualquer. Acabou tornando-se o MEU CARRO e passei a gostar dele, mais até do que os meus anteriores.

Como é natural para tantas pessoas nesse meio, em um certo ponto passei a me interessar mais por performance do que pelo visual e fui atrás de um kit turbo para o carro. Fazia algum tempo que eu queria me envolver com isso, mas não sabia a quem entregaria o trabalho, pois como cresci em oficina as histórias de mecânicos e preparadores que eu conhecia só serviam para reforçar a idéia tão comum entre os caretas, de que o bom senso seria deixar o carro original.

Depois de muito pensar, comprei o kit turbo e decidi que instalaria eu mesmo, azar. Não sabia nada disso, mas já havia aprendido tanta coisa sozinho até aquele ponto... Provavelmente eu conseguiria aprender isso também.

Então comecei, com o pé esquerdo, é claro.  Num momento de impulso, desmontei o motor do carro com a ajuda de alguns amigos. E desmontar até que não foi difícil, mas já montar... Montar seria outra história.

E uma história tão comprida, que durou anos, literalmente. Como não sabia nada, acabei dando ouvidos a muita besteira e comecei a retrabalhar meu cabeçote com uma esmerilhadeira. Pra encurtar: O trabalho não ficou pronto até hoje. A grana também encurtou e o carro ficou cerca de dois anos e meio parado, com o motor desmontado e o kit turbo enferrujando na prateleira.

Nesse meio tempo, "aprendi" muita coisa sobre mecânica, mas não tinha grana pra colocar em prática. Quanto mais eu "aprendia", mais aumentavam as peças e os trabalhos que "precisavam" ser feitos no carro para que ele ficasse "bem feito". Então, num momento de impulsividade tão grande como o que me levou a desmontagem, resolvi montar novamente o motor no carro, ORIGINAL. Comprei um cabeçote original e fiz funcionar, tão rapidamente como havia desmontado. E para meu espanto, funcionou mesmo! Tive alguns pequenos problemas com tensionamento da correia dentada, fiquei uma ou outra vez na rua, mas em pouco tempo o carro estava rodando e funcionando melhor até do que antes.

Além das questões mecânicas, paguei uma fortuna de documentos e multas que estavam atrasados, coloquei o carro em dia também nos aspectos estéticos e depois de um tempão, voltei a ter um carro para andar! Foram algumas semanas de grande felicidade, até que tive um contratempo...