Qual carro vai para a pista primeiro?

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Um desagradável imprevisto...




Tudo corria bem. Carro funcionando, cabeçote novo, pintura bem polida, bancos Recaro, rodas 17 importadas... E o mais importante: Após um tempão, eu não estava mais a pé!

Até que um dia, numa dessas noites em que eu trabalhava até tarde, resolvi dar uma passada em casa, tomar um banho e comer alguma coisa, para espantar a fadiga e tocar o trabalho até mais tarde. Já meio tonto de fome e tanto tempo na oficina, quando cheguei não coloquei o carro na garagem, deu preguiça. Afinal, já iria sair mesmo.

Entrei em casa, tomei um banho, calcei minhas havaianas, coloquei uma bermuda e catei um pão com presunto e queijo... Enquanto roía o sanduba já perambulava pela sala, recolhendo minhas coisas para voltar ao trabalho. Quando de repente escuto um carro dando arranque... É curioso como a gente conhece direitinho o som do arranque do nosso carro. Cada carro tem um tipo de motor de arranque diferente, cada motor seja pela taxa de compressão, comando de válvulas ou mesmo pelo desgaste natural dos anéis e cilindros, apresenta uma compressão diferente e cada pinhão e cremalheira fazem seu próprio ruído característico. A soma de todos esses fatores resulta num som único, inconfundível.

Então, quando escutei o carro ligando na rua não tive dúvidas, nem por um milésimo de segundo, de que aquele era o meu carro sendo roubado. Saí correndo, abri a porta e pude ver um cara dentro do meu Kadett já tentando manobra-lo e tirá-lo da vaga onde estava estacionado. Dei um grito, sem raciocinar muito e alertei o cara, que ao me ver certificou-se de que o pino da porta do motorista estava bem fechado e por um instante me olhou com uma cara de quem diz: "Vai fazer o quê?"

Tudo aconteceu muito rápido, por isso não sei se foi assim mesmo ou só na minha imaginação, mas quer tenha sido real ou imaginário, o fato é que disparou uma reação imediata no meu cérebro e eu saí correndo em direção ao carro sem pensar no que faria para entrar. Quando eu percebi, já havia quebrado o vidro do carro com a mão e estava grudado no pescoço do ladrão, que no pavor ainda conseguiu arrancar o carro.

Para meu azar, ele já tinha conseguido manobrar e saiu me arrastando do lado de fora do carro, por cerca de sessenta metros. Quando percebi que a coisa ficaria cada vez mais feia, me dei conta de que cedo ou tarde teria que soltar o cara que gritava apavorado, ameaçando me prensar contra os carros estacionados. Por fim larguei o ladrão e desisti de segurar também meu carro. Só esqueci de que estava andando a mais de 50 km/h... Após ter largado o carro, comecei a rolar pelo asfalto, ciente do que acontecia. Só que aquele momento não acabava nunca... Rolei por mais uns 30 metros, sem sentir dor por causa da adrenalina. Só parei de rolar na esquina da rua, sob uma sinaleira fechada... Ainda bem que não fui mais adiante ou poderia ter sido atropelado pelos carros que passavam no cruzamento.

Saí então correndo de forma insana atrás do carro por mais uma quadra, esperando pela sorte de encontrar uma viatura da polícia, um táxi, alguém... Qualquer coisa! Finalmente me dei por vencido e resolvi voltar para casa e fazer um B.O. na delegacia, o mais rápido possível. Comecei a caminhar rápido pelo caminho de volta.

Foi então que me vi duas quadras distante da minha casa, completamente esfarrapado e ensanguentado. Não tinha mais as minhas havaianas nos pés e ao caminhar escutava um barulho como se estivesse pisando no chão molhado... Não era água, era sangue que vinha da planta dos meus pés.


Meus dedos estavam irreconhecíveis, literalmente em carne viva. Meu braço estava completamente rasgado e ensanguentado, cheio de cacos do vidro temperado da janela do motorista... Eu havia ficado apoiado sobre o vidro que eu mesmo tinha quebrado, que ficou preso na porta pela película... E tinha raspões pelo corpo todo, decorrentes da minha rolagem pelo asfalto em alta velocidade.

Quando cheguei em casa a vizinhança estava em polvorosa. Senhoras chorando, gente curiosa especulando e por sorte, uma vizinha médica estava nas imediações e me ajudou com os curativos. Após passado o rush do momento, ficou claro que eu não iria a lugar algum com meus próprios pés, muito menos fazer ocorrência policial. Liguei então para meu pai e ele foi fazer o boletim em meu lugar. Cerca de uma hora e meia após o ocorrido, o carro foi localizado num depósito da polícia da região metropolitana. Meu pai foi então acompanhado de um amigo buscar o Kadett. Era tarde e não foi autorizada a retirada mas pôde ser constatado que havia sido depenado. Então eles tiraram essas fotos que estão no blog e voltaram para casa. Ao menos o carro já tinha aparecido.

Os resultados práticos de toda essa confusão foram que eu fiquei 3 semanas sem poder caminhar ou trabalhar e o carro voltou para casa sem o interior, sem as rodas 17, sem os bancos recaro e... Bem, é claro que sem o sistema de som. Calculo por cima, que perdi em equipamentos o mesmo valor do carro.

Após um mês passado do roubo, finalmente pude caminhar até a oficina e olhar para o carro novamente. Encontrei-o numa condição ainda pior do que a que tinha estado nos últimos anos, abandonado na garagem.  Agora estava com o interior depenado, com rodas de ferro uma de cada tamanho e pior, com o vidro do motorista quebrado... E ainda tinha que engolir em seco o fato de que tinha de dar graças aos céus por ter conseguido recuperar alguma coisa desse incidente. Decidi naquele momento, sem pensar muito, que agora o carro seria preparado e que iria participar de competições de arrancada.

Mas para isso, eu iria precisar de ajuda financeira...

3 comentários:

  1. Caramba Vicente, que tragédia.

    PjUnknw to CPT aqui, Paulo

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  2. Ehehehe. Fala Paulão! Grande presença aqui no blog.

    Realmente, foi um momento meio casca-grossa na história desse carro, mas acho eu que a vida é assim mesmo. As coisas não só não vem fáceis, como também estamos sujeitos a perder aquilo que temos a qualquer momento.

    Sempre que volto a pensar nesse episódio, percebo que isso vale para tudo na vida, inclusive a própria. A qualquer momento podemos perder nosso carro, nosso trabalho, nossa integridade física e até mesmo aqueles que amamos.

    Por isso é tão importante vivermos os nossos sonhos, por mais trabalho que nos dê, por mais difícil que seja... Pois nunca sabemos quandoo nos vai ser tirada essa chance.

    E viver as competições é uma forma de viver com muita paixão!

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