Estão vendo esse belo virabrequim? Standard, polido, preparado, fosfatizado, jateado, molykotado e bem lubrificado? Pois bem, há muito tempo já que eu havia feito todo esse trabalho e deixado ele pronto para montar. Bom, não exatamente TODO O TRABALHO...
Pois é, fiz toda a parte mais difícil e acabei não lubrificando a peça com óleo antes de guardar. O resultado na umidade de Porto Alegre foi esse:
Fazer tudo de novo? Não dava, por dois motivos: Um deles é que eu mandei as bielas para conferir os alojamentos, coisa que já havia feito duas vezes anteriormente e o problema persistiu. Resolvi entregar o serviço pra alguém com a reputação de ser bem qualificado, a Retificadora Guido Waechter. Só que o único detalhe é que ela fica em Santa Cruz do Sul, a 150 km de Porto Alegre.
Pois bem, recebi um retorno de lá me pedindo que medisse os moentes do virabrequim para dar a folga certa nas bielas. Quando fui medir constatei que ele estava nessas condições. Então dei uma limpada nos moentes para poder medir, pois nessas medições centesimais a sujeira e a ferrugem podem causar erros.
Peguei uma lixa fina, lixei com bastante cuidado e então efetuei a medição.
No meu caso, conforme a foto acima, a medida era aproximadamente 48,975 mm. Assim sendo até mesmo um polimento poderia deixar o virabrequim abaixo da medida STD. Tudo bem, bastaria nesse caso fazer as bielas com furos menores. Mas o custo para diminuir o furo da biela é consideravelmente maior do que o de aumentá-lo, sem falar em depois ter que fazer as pontas das bronzinas e ainda por cima acabar com um conjunto de bielas com furo fora de padrão, que não serviria em outro virabrequim com medidas standard...
E o segundo motivo é que simplesmente eu não estava nem um pouco afim de fazer todo o procedimento no virabrequim novamente pois iria demandar custo, trabalho e principalmente tempo. E as coisas já demoram demais quando andam no ritmo normal. Só de pensar em refazer tudo já sinto uma depressão profunda.
Então vamos adiante.
Depois de lixar com todo o cuidado a sujeira e a ferrugem aqueci novamente o virabrequim e apliquei o Molykote D321R nos munhões e moentes. É interessante lembrar que isso só tem a chance de dar o resultado satisfatório porque o virabrequim já havia passado por todos os processos anteriores e não havia sido usado.
Depois disso é importante fazer o polimento da camada aplicada, para facilitar a montagem do motor e também para que se possa ter o "feeling" correto do giro do motor na hora de dar o torque nos mancais. Muitas pessoas não executam esse procedimento e quando montam o motor o virabrequim fica pesado, podendo até ficar travado. Esse fenômeno contribui para a crença errônea de que o Molykote aumenta as medidas da peça, interferindo com as folgas.
Além disso, após o polimento a camada fica mais resistente ao atrito das bronzinas e esse é um dos passos necessários para a aplicação técnica do produto, para que ele se mantenha aderido ao metal do virabrequim durante toda a vida útil do motor.
As fotos acima mostram a diferença entre um munhão e um moente já polidos em relação aos outros que ainda estão com a pintura bruta.
Acima o virabrequim pronto e nas fotos abaixo o virabrequim já lubrificado com óleo de motor, para evitar a corrosão.
O ideal para isso seria um óleo de preservação, que é a mesma coisa que vem no virabrequim e outras peças originais de fábrica, porém eu não tinha isso disponível, então lancei mão de um litrinho de óleo sintético avulso e limpo que eu tinha guardado e depois fechei o vira hermeticamente com um saco de lixo. Não é a solução mais elegante, mas o que importa é não cometer o mesmo erro duas vezes, não é?