Qual carro vai para a pista primeiro?

domingo, 9 de maio de 2010

Burning the midnight oil



Após muito preparar o carro, determinamos a meta de aprontá-lo para uma prova a ser realizada no dia 24/09/06, que seria a quinta etapa do Campeonato Metropolitano, no Complexo Cultural do Porto Seco, ou seja, na pista do sambódromo de Porto Alegre.

Mas em casa de ferreiro, é claro que o espeto é de pau e com isso não sobrava tempo suficiente para trabalhar no carro, pois sempre haviam coisas para fazer na oficina que tomavam a frente na lista de prioridades. Conforme a prova se aproximava e o Kadett longe de ficar pronto, comecei a ficar nervoso e com receio de desapontar meu então sócio no carro, o Fernando Wortmann e decidi simplesmente tirar as duas  semanas subsequentes para deixar o carro em dia.

Infelizmente, em minha inexperiência com esse tipo de coisa, julguei mal a quantidade de trabalho que tinha que ser realizada.e os possíveis problemas que decorreriam dessa empreitada. Fui muito otimista e paguei o preço, pois às vésperas da prova o carro ainda não estava nem perto de estar pronto.

Depois de muito tempo desmontado ele apresentava problemas de todos os tipos: Suspensão, com amortecedores estourados, os freios apresentavam um problema misterioso que fazia com que o pedal baixasse. Sangramos o sistema à exaustão, trocamos o fluido, verificamos vazamentos e nada resolvia. O motor não estava nem montado e muito menos acertado, não havia parte elétrica e assim por diante. Até mesmo a caixa de câmbio estava fora do carro e desmontada.

19/09/06, parte de baixo do motor montada: 5 dias para a corrida


21/09/06, montando a caixa de câmbio: 3 dias para a corrida.
 

Madrugada da corrida, meu pai pintando e instalando a tampa traseira de fibra no carro: Qualquer hora é hora.

A coisa realmente estava feia e as perspectivas de sequer participar da prova estavam negras.

Foi então que aconteceu uma coisa que mudou minha forma de ver as corridas para sempre: Decidimos virar as noites anteriores a corrida trabalhando até que o carro ficasse pronto, ou o mais próximo possível disso. A notícia se espalhou e amigos começaram a aparecer. Formou-se uma grande corrente em torno de acabar o Kadett, com todos ajudando da forma que sabiam, na montagem do motor, elétrica, montagem do carro em si... Foi muito legal receber toda a ajuda de amigos - e até mesmo amigos de amigos - que apareciam sem nenhum convite, pelo simples prazer de fazer parte da "equipe".

Pomada, como sempre dando aquela força nos momentos em que mais precisamos.

Eu e meu irmão Fabio, grande parceiro desde o primeiro momento

Julio Steyer trabalhando, Gabal e Fernando "Guria" galinhando na volta.

Gabal e Fabio trabalhando nas linhas de combustível

Breno sangrando os freios: Também é um amigo de fé.

 Eu e o Pedrão trabalhando nos amortecedores dianteiros

Fernando Wortmann com a mão na massa

Fernando "Guria" montando a elétrica

"Duracell" e Fabio concluindo os detalhes do motor



Eu no meio da madrugada do "dia D", puxando os fios para o atrasador de ponto, rodeado de peças e mais peças de carros que iriam correr.

Aprendi nesse dia que muitas vezes, pessoas que você nem imagina apoiam e torcem muito pelas coisas que você realiza. Percebi também que não são só os carros que exercem uma mística, e que também a participação deles em uma competição é algo muito poderoso, que agrega pessoas em torno de um único objetivo: A vitória. Não simplesmente um carro arrancando e chegando na frente de outro. Esse efêmero momento é apenas a coroação do trabalho executado, da paixão investida naquilo e naqueles em que acreditamos.

O que a vitória tem de mágico é que ao contrário de quase tudo no mundo, ao dividí-la, você na realidade está somamdo. Uma vitória dividida com aqueles que dela participam se torna mais relevante, mais duradoura, mais lembrada. Mais importante em todos os sentidos.  

E quando vi aquele monte de gente procurando uma forma de ajudar a fazer o carro participar da competição... Virar noites trabalhando, não parar sequer para me alimentar direito, abrir mão do serviço na oficina... Tudo isso pareceu pequeno perto do sentimento que tomou conta do ambiente. Me senti obrigado a fazer tudo e mais um pouco para que o carro não só fosse para a pista, mas também não passasse vergonha.

A situação que estava pesada pelo grande trabalho pela frente e a decepção de não conseguir aprontar o carro foi sendo transformada em uma espécie de euforia, que ia aumentando a cada um que chegava para ajudar. O trabalho ia madrugada a dentro e o carro finalmente começava a tomar forma. Além disso, mais amigos levaram seus próprios carros para a oficina para deixá-los prontos para a prova, pois ali estava se criando uma novidade que mudaria tudo no futuro: A Associação Desafio.

Breno e seu Tempra Stile

Fabio Andreis e seu primeiro Eclipse GSX

T.O. Castro e o Civic 07, o papa-tudo de 2006

Estávamos naquilo até o pescoço, oferecendo premiação, trabalhando na organização, incetivando o pessoal a largar as ruas e correr nas pistas... E isso incluía até mesmo oferecer espaço e ajuda aos competidores que não tinham onde mexer nos seus carros. Sem falar naqueles que passavam lá para pegar algumas peças para fazerem os últimos ajustes para a competição. Era uma grande e animada bagunça.

T.O. Castro e Pedrão infligindo uma "dieta" ao Civic.

 Pedrão, Fabio Andreis e Rafael Andreis ao fundo

"Que barulho foi esse?"

 Trabalho em carro de corrida quase sempre gera uma boa quantidade de bagunça

Os irmãos "Gordo" e "Guria" Fleck

Gordo e Julião assistindo atônitos o Leozinho pilotar freneticamente um carro imaginário, trocando as marchas com a mão direita e utilizando o Magriço como volante.

Fabio Andreis, o "Gringo", metendo bronca noite à dentro.

Minha irmã Julia, preparando um rango pra galera tirar a barriga da miséria

Wortmann, Breno e Marcio "Duracell" degustando um docinho, cortesia das manas, Rita e Julia.

Entrada da oficina na madrugada do dia anterior à prova

A madrugada foi longa e o trabalho foi duro, mas logo que os primeiros raios de sol surgiam no horizonte, o Kadett estava sendo empurrado para a rua, pronto. É certo que não fizemos tudo como gostaríamos, ou como seria o correto, mas isso não tornava menos impressionante o fato de que ali estava um carro, completo, com 4 rodas, suspensão e um motor que até funcionava! Esse é um dia de que jamais vou esquecer.

Infelizmente, apesar de toda a boa vontade, essas iniciativas resultam em um trabalho um tanto caótico e com margem para muitos erros. Logo na primeira volta na quadra, Wortmann saiu pilotando com "muita vontade" e a correia dentada (que certamente ficou frouxa no meio de tanta correria) pulou e fez com que duas válvulas fossem "cabeceadas" pelos pistões.

Após tanto trabalho ininterrupto o cansaço era grande e não caiu a ficha de que o problema poderia ser assim tão grave. É impressionante como a gente vai perdendo a capacidade de analisar as coisas com clareza quando ficamos muito tempo sem dormir e sem comer direito

Decidimos ir para o sambódromo de qualquer forma. Lá tentaríamos descobrir o problema, resolvê-lo e participar da prova. Afinal de contas, para aquele time nada parecia impossível. Mas com mais calma acabamos descobrindo a terrível verdade e percebendo que a corrida tinha acabado ainda na porta da oficina. A decepção foi muito grande. Nos sentimos muito abatidos e agora só nos restava assistir a prova da arquibancada e ajudar os outros amigos, como T.O. Castro e seu Civic 07 que participariam da corrida.

Gringo, Pedrão, Alessandro, Duracell, Wortmann, Pomada e Gabal, ainda tentando descobrir o problema.

Decepção da galera ao ver que não tinha jeito mesmo



Depois de toda a empolgação do pessoal, do mutirão e de muito trabalho duro, foi um golpe bem forte no nosso moral. Mas não pretendíamos desistir facilmente. Nossa primeira participação ficaria para uma próxima oportunidade.

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